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O primeiro critério recomendado no guia estratégico da OMS para reabertura segura de quarentenas é o número de novos casos de coronavírus se mantiver estável ou em queda nos últimos 14 dias. Mas é muito difícil de acompanhar no Brasil. Seguem alguns problemas e minha tentativa de mostrar graficamente a posição aproximada de cada estado.

Primeiro problema é a subnotificação. Nossos 3 principais indicadores têm problemas grandes – testes positivos, internações por SRAG e declarações de óbito em cartório. Até termos dados melhores ou pesquisas com testes aleatórios na população, esse problema é insolúvel.

Precisamos então trabalhar com dados sub-ótimos. Internações por SRAG o dado é semanal e muito revisado. Declarações de óbito o registro online está muito estranho. Restam os testes positivos de novos casos e novos óbitos.

Dois problemas com esses números: todo fim de semana e feriado diminui o pessoal que atualiza os números e os casos caem, o atraso é tirado 2 dias depois. Além disso, há uma fila de testes e muitos lugares parecem despejar casos “de baciada” no dia que a fila diminui.

Como acompanhar a tendência de casos dia-a-dia em uma situação dessas? Apliquei dois tratamentos na série de tempo:

  • Para suavizar o preenchimento errático, ao invés do número bruto do dia, uso uma média geométrica móvel dos novos casos nos últimos 7 dias. Por exemplo, o nº de novos casos hoje passa a ser a média geométrica dos novos casos de terça passada até hoje.
  • Para corrigir efeito de fins de semana com menos casos e terças com muitos casos, subtraio dessa média móvel de novos casos no dia a média móvel do mesmo dia na semana passada. Quero saber se *hoje* há *mais novos casos* que no mesmo dia da semana anterior – tendência de alta.

A combinação desses dois ajustes deve servir para que erros pontuais de mensuração não tenham peso tão grande, ficando a tendência geral dos casos. Abaixo os resultados com dados até este domingo para cada estado e região brasileira. Nesses gráficos o critério da OMS apareceria como 14 barras azuis consecutivas no cenário mais seguro, ou 14 barras muito pequenas, próximas do zero, em sequência.

Tendência Centro-Oeste

Tendência Nordeste

Tendência Norte

Tendência Sudeste

Tendência Sul

Vemos que talvez com exceção do Mato Grosso e Paraná, nenhum estado está próximo dessa situação. Mas é preciso algum cuidado para interpretar esses números. Não temos informações públicas claras sobre a capacidade de teste de cada estado, quantos estão aplicando e quantos % dos testes dão positivo. Número de óbitos confirmados também com dados instável para a conta acima.

Mas, como o que importa aqui é menos a precisão exata do número e mais a tendência geral, se assumirmos que os testes positivos variam aproximadamente como os casos reais variam, a interpretação da tendência é razoável. Esse mesmo indicador e forma de apresentação poderia ser usado com interpretação muito mais robusta se existisse uma série de dados de mortes totais por dia no Brasil. Assim, deixaríamos de depender de testes de coronavírus. Em países desenvolvidos o impacto do vírus têm sido grande suficiente para mudar abruptamente o comportamento das mortes totais.

Um dado que governos estaduais e municipais podem conseguir disponibilizar de forma mais fácil e combinar com uma tendência como a calculada acima é o dado de variações na disponibilidade de leitos em UTI. Com os dois em mãos, seria possível calibrar uma avaliação de qual cenário que estamos, tendência de alta, baixa, ou estável.

Doutor em Economia, professor do Insper e pesquisador do IDP-SP. Sócio e CEO da AED Consulting. Desde 2013 faço divulgação científica neste blog e nas redes sociais por paixão e convicção. Defendo políticas públicas baseadas em evidências e os princípios éticos do humanismo secular.

3 Responses to “Quando a epidemia estiver controlada, como saberemos?”

  1. Murilo

    Ótima análise ! Só uma observação: no último parágrafo antes dos gráficos parece haver um erro em “… tendência geral dos nos casos…”
    Quanto ao dado de variação na disponibilidade de leitos, dá uma olhada nisso aqui: https://simulacovid.coronacidades.org/

  2. giacomo

    oi Thomas. acho que a resposta se da quando o R0 <1. ou alternativamente quando obtivemos a imunidade de rebanho ou sem, quando Ir= 1 – 1/r0

    • Thomas Conti

      Sim Giácomo, essa é a ideia. Os gráficos que coloquei são apenas uma forma de apresentar isso visualmente, em especial os 14 dias, dado a dificuldade de explicar R0 e mostrá-lo visualmente para leigos. Abraços

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