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Todos estamos chocados com as notícias sobre os casos recentes de estupro coletivo. E o retrato geral da realidade do país no problema da agressão sexual não poderia ser mais trágico. Seguem alguns números que juntei e um mapa por Estado:

(1) Estima-se que a cada ano 0,26% da população brasileira sofra abuso sexual (527 mil casos de estupro por ano).

(2) Em 2012 foram notificados 50.617 casos de estupro.

(3) A vasta maioria dos estupros não é relatada à polícia nem passa pelos hospitais.

(4) 15% dos estupros envolvem mais de um agressor ao mesmo tempo.

(5) 90% das vítimas são mulheres, e 50% delas são menores de 13 anos. Metade delas são de pele preta ou parda e metade são brancas, ou seja, não é um fenômeno restrito à apenas parte da sociedade, mas sim geral.

(6) Mais de 70% dos estupros vitimizam crianças e adolescentes.

(7) 97% dos estupros são cometidos por homens.

(8) 24,1% dos estupros relatados tem como agressor o pai ou padrasto da vítima.

(9) 32,3% são amigos ou conhecidos da vítima.

(10) 20% a 40% dos casos de estupro estão relacionados ao consumo de álcool do agressor.

(11) Em 34% dos casos as vítimas apresentam estresse pós-traumático e transtornos de comportamento. 0,7% se suicidam.

(12) De 67% a 80% das crianças e adolescentes vítimas de estupro são vitimadas por conhecidos dentro da própria casa.

(13) Mesmo quando o agressor é um desconhecido, de 20 a 30% dos casos de estupro à menores de idade ainda assim ocorrem dentro da própria casa da vítima.

(14) A maior parte das agressões são feitas dentro de casa por parentes, namorados ou amigos/conhecidos da vítima. A probabilidade do agressor ser um estranho aumenta conforme aumenta a idade da vítima.

(15) Em 50% dos casos relatados anualmente de estupro por conhecidos as vítimas relatam que já haviam sido estupradas outras vezes. Nos estupros por desconhecidos, esse número é de 15%.

Fontes: DATA-SUS e Cerqueira, D., & Coelho, D. D. S. C. (2014). Estupro no Brasil: uma radiografia segundo os dados da Saúde.

Como colocou o Professor Dr. Marcelo Justus, que pesquisa na área da economia do crime e da violência, há uma taxa de subnotificação de estupros elevadíssima no Brasil, de forma que o problema é bem maior do que esses números mostram. A certeza de que a vítima não denunciará é um incentivo para o comportamento criminoso. Há casos em que a mulher é repetidamente vítima durante muito tempo e vive sob ameaça.

E de fato, se olharmos os números, de 15% a 50% das vítimas já haviam sido estupradas anteriormente. Ou seja, enquanto sociedade precisamos incentivar e apoiar que esses crimes sejam DENUNCIADOS.

Distribuição das taxas de estupro por Estado:

 

OBS: Grupos segundo qualidade estimada dos dados registrados. Grupo 1: maior qualidade das informações; Grupo 2: menor qualidade das informações (Acre, Amapá, Paraíba, Rondônia, Tocantins); Grupo 3: não há como atestar a qualidade dos dados informados (Amazonas).

Fonte: Secretarias Estaduais de Segurança Pública e/ou Defesa Social; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Tabela 11 – Tabela de crimes contra a liberdade sexual – casos de estupro consumados.

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Doutor em Economia, professor do Insper e pesquisador do IDP-SP. Sócio e CEO da AED Consulting. Desde 2013 faço divulgação científica neste blog e nas redes sociais por paixão e convicção. Defendo políticas públicas baseadas em evidências e os princípios éticos do humanismo secular.

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